É impressionante como quando temos tempo virtualmente ilimitado para fazer alguma coisa com pouca urgência, nós acabamos nos tornando especialistas em procrastinar. Adiando aquela tarefa até ela deixar de ser algo importante para nós ou até um senso de urgência aparecer.
É curioso que esse é o modus operandi natural de maioria das pessoas, e eu estou me incluindo neste. Ainda mais para nós que trabalhamos grande parte do dia no computador – em vez de ir direto para executar aquela tarefa de real significado e importância, nós procrastinamos vendo noticias, redes sociais ou as vezes até mesmo fazendo algo que é “trabalho”, como email, mas sem intencionalidade. Nós nos explicamos que aquilo é produtivo, que aquilo é trabalho, mas muitas vezes fazemos este no momento errado, momento enquanto poderíamos estar fazendo coisas essencialmente mais importantes.
Começar o dia escrevendo um texto é importante pra mim, porém maioria dos dias eu começo pelo email e, já com esta primeira decisão, eliminei minha capacidade de escrever um texto pelo restante do dia. Ou tem dias que eu sei que preciso revisar um documento ou contrato, ou fazer uma reunião, mas eu me digo que farei aquilo em outro momento, pois tenho o dia todo livre para fazê-lo. E o que acontece? Muitas vezes não o faço pois me ocupei com dezenas de coisas pequenas e não importantes, mas que no momento parecem importantíssimas.
Porém algo de diferente aconteceu recentemente na minha vida. Passei, temporariamente, por um tempo viajando, onde acabava dividindo meu dia entre familia, treinos para o Ironman, programas para explorar a região e, finalmente, trabalho. Trabalho deixou de ser 70-80% do meu dia para ser algo mais em torno de 30 a 40%.
De primeira eu fiquei com medo de não conseguir lidar com todas as diversas responsabilidades que carrego. Isso até me gerou bastante ansiedade em um primeiro momento. Porém, com o tempo, algo curioso foi acontecendo. Eu sentava para fazer o trabalho e ia direto para tarefas essenciais que precisavam ser feitas. Como o tempo era curto, eu não ia ler noticias, newsletters, dar atenção a emails que não merecem minha atenção e ia direto ao trabalho importante. Fazendo todas as tarefas essenciais e também aquelas que vinha procrastinando.
Com esse mindset não só consegui lidar com tudo que tinha para lidar, como também encontrei tempo para escrever, pensar e fazer os trabalhos com intenção e curtindo o processo. Sem deixar de ser pai, marido, triatleta, surfista e explorador. E tudo com um mindset de maior presença no momento e feliz por estar fazendo o trabalho e, podendo, principalmente, livremente aproveitar o tempo em que não estava trabalhando. Sabendo que as petecas não estavam caindo, que tudo estava organizado e que eu poderia sim aproveitar o momento.
Aprendi que tempo, timeblock ou etc., não é o mais importante para conseguir fazer mais em menos tempo; e sim ser intencional no seu trabalho, eleger as prioridades e, quando finalmente sentar para trabalhar, ir direto para o que importa, com um prazo curto (mesmo que fabricado mentalmente*) para executá-lo.
*>> pois o tempo para fazer uma tarefa sempre tende a se expandir até o limite, e mais um pouco. Então em vez de bloquear 1h hora para uma tarefa, por exemplo, bloqueie 30 minutos e deixe uma margem de 10 minutos a mais. Isso acontece não só com “tempo”, mas também com a utilização de outros recursos, até recursos financeiros. Quantas vezes você já não extrapolou o orçamento?