Cérebro
É impressionante como o cérebro funciona.
Antes de escrever o texto de ontem eu estava receoso de como voltar a escrever – sem ter clareza sobre o tom que deveria usar, da narrativa, da distribuição, dos assuntos de foco e por aí em diante.
E esse é o processo que muitas vezes mentalmente passamos em nossas vidas; vamos pensando tanto no “modelo ideal” e nas ferramentas idealmente necessárias que perdemos a capacidade de simplesmente executar. Ficamos na inércia.
Depois de ter escrito o texto, é incrível como o meu cérebro já se “reorganiza” para agora ver coisas no mundo e converter estes em novas ideias do que escrever, de novos testes de tom de voz que possa fazer e por aí em diante.
Depois de cada texto escrito tenho muito mais clareza do direcionamento de estrutura que tenho que seguir. Em vez de tentar descobrir estes antes de começar o processo – e as vezes travar – as vezes temos que começar para depois descobrir o caminho com maior facilidade.
Por isso considero que existem dois tipo de pessoas no mundo, e com certeza algumas são predominantemente mais um tipo mas as vezes passam pelo mesmo processo do outro:
Tem a pessoa que precisa ter tudo organizado mentalmente para começar um projeto, tendo estudado muito a respeito, feito pesquisas, desenhado a estrutura perfeita, feito network focado para entender mais do mercado e entram com a própria visão do mundo perfeito pronta.
Do outro lado, temos a pessoa que quase que apenas instintivamente só começa. Sem saber tudo que precisa saber mas disposto para ir aprendendo no caminho; para ir se adaptando de acordo com as descobertas.
E estes dois mindsets são muito valiosos, com seus pros e contras. E com algumas dicas para fazer o melhor dos dois universos:
Enquanto a pessoa do primeiro grupo muitas vezes acaba entrando com um conhecimento maior, a segunda está mais disposta e enfrentar as adversidades e não-conformidade com as expectativas que sem dúvida irá encontrar. Porém a falta de planejamento pode fazer esse processo se tornar árduo demais ou impossível para o segundo grupo – enquanto primeiro navega com maior sabedoria do que pode estar por vir.
Se você se identifica mais com o primeiro grupo, sugiro que sim, se prepare antes de fazer um projeto novo, mas sem isso se tornar um impeditivo que aumenta a dificuldade para sair da inércia. Você pode diminuir as etapas de planejamento um pouco para aprender “na rua” (street smart) sobre a realidade em vez de nos livros e nas pesquisas (book smart). ´É muito bom você entrar em um novo “mundo” com bastante informação a respeito, mas lembre-se sempre que o mapa não é o território. Você ainda precisará destrinchar as peculiaridades da floresta mesmo tendo o melhor mapa.
No mundo ideal, de autenticidade e auto-realização, você mesmo precisa desenhar o mapa. Utilizando mapas de terceiros para facilitar o caminho em alguns pontos estratégicos, mas o mapa é só seu.
Se você se identifica mais com o segundo grupo, é bom você seguir suas intuições e não deixar com que fatores externos impeçam seu ingresso no mundo onde você quer explorar. Porém a falta de informação pode ser mais maléfico que o excesso – portanto cuide de juntar um mínimo de informação do “mapa” antes de ir explorar o território. Se essa é sua personalidade, saiba que sua pré-concepção do território é tudo menos a verdade; portanto é necessário ter a capacidade de exercitar a resiliência e disciplina para continuar na trilha mesmo depois de diversos fracassos necessários para a adaptação acontecerem.
Eu, apesar de ser analítico e pensar muito antes de fazer as coisas, faço mais parte do segundo grupo que do primeiro. Eu sempre vou seguir mais a minha intuição [e tentar justificar racionalmente] e estou pronto para quebrar a cara e ir adaptando no meio do caminho; sou o tipo de pessoa que não quer ver o manual – que prefere fazer errado, ficar irritado e fazer do meu jeito quebrar o item do que ler um livro “antes de montar o brinquedo”. Mas sei que para este eu preciso estar disposto a lidar com diversos erros antes de realmente começar a aprender sobre a verdade.
Um exemplo disso poderia ser as empresas que empreendi, mas prefiro o caso do Ironman para exemplificar.
Acredito que um dos motivos que tenha feito o Ironman se tornar um objetivo possível para ser realizado em 4 meses, sem nenhuma familiaridade prévia, tenha sido a ignorância do grau de dificuldade do que estava me metendo. Não tinha um pré concepção do que se exigia; apenas estava decidido que iria fazer.
Então quando estava treinando 20 horas por semana, eu não achava isso “estranho” e exagerado; era o que era – eu não tinha um embasamento que aquilo era quase impossível do meu corpo e mente aguentarem. Talvez se tivesse feito esse plano aos poucos, botando o dedão na agua antes de pular de cabeça, eu não teria feito. Hoje, sendo um triatleta amador que treina todos os dias, eu tenho muito mais medo do ironman do que tinha naquele momento.
Claro que eu tinha plena consciência que seria algo difícil, mas bem menos que a realidade. Portanto quanto peguei meu mapa e fui explorar o território fui aos poucos entendendo onde estava me metendo. Mas em vez de me frustrar e desistir, eu usei aquilo como uma fonte de energização, “de fazer o impossível”, ao mesmo tempo que vi que seria primordial buscar mais informações do mapa ao mesmo tempo que explorava o território:
Comecei a estudar o assunto quase o tanto quanto treinava – passava horas lendo blogs, pesquisas cientificas e fazendo até planilha de excel para entender o gasto calórico e perda de liquido durante os treinos e as possibilidades para repor estes. Me cerquei dos melhores profissionais (técnico, nutricionista, nutrólogo, massagista, parceiro de treino e etc.) e utilizava quase de tudo que “teoricamente” poderia ajudar na recuperação do corpo e aumento de endurance; como banheira de gelo, fortalecimento na academia e sauna infravermelho.
Portanto seguindo minha intuição e personalidade do segundo grupo, apenas mergulhei de cabeça no desafio, mas sem dúvida eu não teria conseguido completar o plano de acordo com o planejamento se não tivesse analiticamente buscado mais informações para incorporar no planejamento.
Então fui naturalmente crescendo de algo intuitivo para algo super estruturado e embasado. Se tivesse sido feito de qualquer outra maneira, não teria tido o mesmo sucesso.
Sempre respeite suas características, não tente mudar estes, mas busque o não-natural para complementar as deficiências. Busque mais informações do mapa quando estiver no território – ou vice versa; tente pisar um pouco no território para saber melhor por onde você precisa continuar os estudos do mapa.
As vezes você precisa dar mais um “salto de fé”; indo atrás de seus sonhos e objetivos. Só vai e no caminho você vai aprender do que precisa.
As vezes você precisa estudar o máximo possível antes de pular [de paraquedas por exemplo].